segunda-feira, 11 de maio de 2015

OS PILARES ESTRUTURAIS DA NATUREZA HUMANA SEGUNDO A SUMA TEOLOGICA

ESTRUTURA EPISTEMOLÓGICA DA NATUREZA HUMANA 




INTRODUÇÃO:

Os motivos originais deste artigo foram a completa perplexidade que a obra Suma Teológica de Santo 
Tomas de Aquino provoca no espirito de quem resolve conhecer. Mesmo o conhecimento supérfluo, senão houver forte determinação e vontade do leitor, desiste nas primeiras paginas. Primeiramente pela quantidade  de informações: esta edição da Ed. Loyola, 2002,  publica-o em  oito volumes com  três partes.  As três partes estão divididas em questões: A I Parte contem 119 questões; a II Parte subdivide em duas seções: a I Seção da II Parte contem 114 questões e a II Seção com 189 questões; e a III Parte com 90 questões, perfazendo num total de 512 questões. Considera-se também a quantidade de preâmbulos que em cada volume abarca  por necessidade de clarear, ao leitor, o plano geral da obra, assim como as introduções e notas de estudiosos consagrados da obra de Santo Tomas.

João Ameal, da Academia Portuguesa da Historia, na obra " Tomas de Aquino - iniciação ao estudo da sua figura e da sua obra" (Biblioteca fundada por Leonardo Coimbra, Coleção Filosofia e Religião, Ed. Tavares Martins - Porto, 1937); fornece as seguintes informações em relação a Suma contra aos Gentis e a Suma Teológica:

"...e estender a sua ação à Península Hispânica,
donde os árabes são gradualmente expulsos pelos
Monarcas portugueses e espanhóis. É indispensável que,
nesses territórios restituídos aos cristãos, um exército de
missionários acorra a espalhar a palavra divina. A pedido
do ilustre dominicano espanhol Raimundo de Pefiafort
superiormente apoiado pelo Papa Alexandre IV, 'Tomás
de Aquino empreende o trabalho que ficará entre as suas
obras-primas e será uma espécie de preparação à Summa
Theologica; a Summa contra Gentiles, destinada exactamente
aos Pregadores que irão evangelizar mouros e
judeus.
.....a própria Summa Theoloqice, aprofunda
as bases racionais do ensino, assinala as harmonias existentes
entre a razão e a fé, a natureza e a sobrenatureza.
Uma vez estabelecidos os princípios metafísicos
fundamentais, deles deduz todas as demonstrações progressivas
e a eles regressa, constantemente, como aos
grandes pontos de partida que são também os grandes
pontos de apoio do sistema coerente que edifica. Tomás
de Aquino não se esquece de que se dirige aos herdeiros
duma civilização adiantada, aos possuidores duma filoso ...
fia opulenta, embora cheia de erros e lacunas. Prefere,
portanto, atacá...los com as armas da razão - as mais
eficazes para os persuadir e abalar. Baseado em funda...
mentos aristotélicos e, aqui e além, nas interpretações neo-
platônicas, diverge, todavia, com esclarecido equilíbrio,
quer dos maiores doutores árabes, como Averroes e Avicena,
quer de certos exageros de Santo Agostinho. Define
a Filosofia como ciência das causas. A suprema causa é
Deus - sem o qual nada existe e nada será, pois, compreensível.
A Filosofia é, em última análise, a ciência de
Deus: considera-O, antes de mais nada, em Si Próprio,
depois na Sua atividade de Criador, por fim na atração
que sobre o mundo exerce. A infinita misericórdia divina
revela ao homem as verdades de que necessita para a sua
orientação no Universo. À luz desse conhecimento, misterioso
mas fulgurante, é que se podem estudar as relações
entre o mundo criado e a sua origem.
E são as Ordens mendicantes que promovem com maior entusiasmo
estas duas manifestações supremas da Cultura medieval.


Destes textos, fica-nos a questão: Santo Tomas  fundamentou intelectualmente a Inquisição e especialmente a Inquisição Espanhola? O motivo é que sua Ordem Dominicana será o executor desta pratica adotada pela Igreja Católica para combater as heresias com os albigenses , fação da seita dos cátaros, depois com o surgimento de Lutero e do protestantismo, culminando com a expulsão dos árabes e judeus na península  ibérica, no reinado da Rainha Isabel.

Segundo o autor Paulo Faitanim, UFF, no artigo "Inquisição: Verdade e Mito" do site http://www.aquinate.net, aliais muito esclarecedor, nos adverte: " o essencial numa investigação histórica são os fatos: os documentos, os dados arqueológicos....eles devem falar mais alto que o sentimento de quem os descreve".
João Bernardino Gonzaga, "A Inquisição em seu Mundo" http://alexandriacatolica.blogspot.com.br, amplia nosso entendimento: 
A Inquisição, enquanto instituição humana, nasceu e permaneceu
imersa no mundo que a envolvia, que a explica e que a modelou.
Logo, sem conhecer esse mundo, não poderemos julgá-la. Por
isso, quisemos proceder metodicamente na nossa investigação. Como
o Santo Ofício integrou a Justiça Criminal da sua época, torna-
se preciso saber de que modo se comportava essa Justiça. Em
seguida, verifica-se que a inteira Justiça, tanto a comum como a
eclesiástica, esteve sob a influência de um complexo de fatores,
que criavam toda uma peculiar formação cultural. Eram condições
culturais, políticas, sociais, econômicas, religiosas, científicas, que
moldavam certo estilo de vida, muito diferente do nosso.


Ora, não pretendemos fazer um artigo sobre a Inquisição, mas devemos compreender que esta Obra de Santo Tomas: Suma Teológica  elaborada  neste contexto histórico  atende as  necessidades de sua época: 


A intenção que preside a esta obra gigantesca - feita
de acordo com a tendência dominante do tempo, e porque
ao Aquinense já não satisfaz o simples comentário dos
quatro Livros das Sentenças de Pedro Lornbardo. cuja
estrutura é confusa e mal ordenada - é a de fornecer
aos estudantes de Teologia, sacrae doctrinee novitios, um
vasto manual, o mais elucidativo possível.
 Observa que nos
trabalhos até então existentes os estudantes encontram sérios
embaraços, tanto pela inútil multiplicação das questões,
dos artigos e das provas como pela falta duma ordem
rigorosa, que deixa caminho livre aos acasos dos comentários
e dos debates. Daí, uma insistência nos mesmos
pontos, aos quais se volta sem os esgotar, com o que os
espíritos se sentem fatigados e confusos. É necessário
construir uma síntese organizada, sistematizada, o mais
clara possível. Eis o objectivo da Sumna. Objectívo. aliás,
não só atingido, mas amplamente ultrapassado .
João Ameal, da Academia Portuguesa da Historia, na obra " Tomas de Aquino - iniciação ao estudo da sua figura e da sua obra"
O objetivo principal deste estudo restringe ao  Volume 2, da obra Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino, da Edição Loyola, 2014:  trata dos  aspectos  históricos teológicos do homem segundo a Revelação de  Deus, conforme as Sagradas Escrituras e sua Tradição.
Estes aspectos estão divididos em cinco partes:
Primeiro: A Criação
Segundo: O Anjo
Terceiro: A obra dos seis dias
Quarto:   O Homem. Esta parte subdivide em dois sub tópicos: o pensamento humano e sua origem
Quinto:    O Governo Divino.


1º Capitulo: A Criação:.....no principio...

















segunda-feira, 4 de maio de 2015

O primogênito da nova criação

Segunda leituraDos Sermões de São Gregório de Nissa, bispo (Oratio 1 in Christi resurrectionem: PG 46, 603-606.626-627)(Séc.IV) O primogênito da nova criação

Começou o reino da vida e foi dissolvido o império da morte. Apareceu um novo nascimento,
uma vida nova, um novo modo de viver; a nossa própria natureza foi transformada. Que novo
nascimento é este? É o daqueles que não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da
vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13).

Tu perguntas: como isto pode acontecer? Escuta-me, vou te explicar em poucas palavras.

Este novo ser é concebido pela fé; é dado à luz pela regeneração do batismo; tem por mãe a
Igreja que o amamenta com sua doutrina e tradições. Seu alimento é o pão celeste; sua idade
adulta é a santidade; seu matrimônio é a familiaridade com a sabedoria; seus filhos são a
esperança; sua casa é o reino; sua herança e riqueza são as delícias do paraíso; seu fim não é a
morte, mas aquela vida feliz e eterna que está preparada para os que dela são dignos.

Este é o dia que o Senhor fez para nós (Sl 117,24), dia muito diferente daqueles que foram
estabelecidos desde o início da criação do mundo e que são medidos pelo decurso do tempo.
Este dia é o início de uma nova criação. Nele Deus faz um novo céu e uma nova terra, como diz
o Profeta. Que céu é este? Seu firmamento é a fé em Cristo. E que terra é esta? O coração bom,
de que fala o Senhor, é a terra que absorve a água das chuvas e produz frutos em abundância.


O sol desta nova criação é uma vida pura; as estrelas são as virtudes; a atmosfera é um
comportamento digno; o mar é a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência (Rm
11,33). As ervas e as sementes são a boa doutrina e a Escritura divina, onde o rebanho, isto é, o
povo de Deus, encontra sua pastagem e alimento; as árvores frutíferas são a prática dos
mandamentos.

Neste dia, o verdadeiro homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Não é, porventura,
um novo mundo que começa para ti neste dia que o Senhor fez? Não diz o Profeta que esse dia
e essa noite não têm igual entre os outros dias e noites?

Mas ainda não explicamos o dom mais precioso que recebemos neste dia de graça. Ele destruiu
as dores da morte e deu à luz o primogênito dentre os mortos.

Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus (Jo 20,17), diz o Senhor Jesus.
Que notícia boa e maravilhosa! O Filho Unigênito de Deus, que por nós se fez homem, a fim de
nos tornar seus irmãos, apresenta-se como homem diante de seu verdadeiro Pai, para levar
consigo todos os novos membros da sua família.

Responsório 1Cor 15,21-22; 2Pd 3,13a

R. Por um homem nos veio a morte
e por outro, a ressurreição.
* Assim como em Adão todos morrem,
terão todos a vida no Cristo. Aleluia.
V. Novos céus, nova terra esperamos,
apoiados na sua promessa.
* Assim como.
  
Oração
Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que
ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos
corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A cruz de Cristo, salvação para o gênero humano

Dos Sermões de Santo Efrém, diácono 
(Sermo de Domino nostro, 3-4.9: Opera edit. Lamy, 1,152-158.166-168) (Séc. IV)

A cruz de Cristo, salvação para o gênero humano
        Nosso Senhor foi calcado pela morte mas, por sua vez, esmagou-a como quem soca com os pés o pó da estrada. Sujeitou-se à morte e aceitou-a voluntariamente, para destruir aquela morte que não queria morrer. Nosso Senhor saiu para o Calvário carregando a cruz, para satisfazer as exigências da morte; mas, ao soltar um brado do alto da cruz, fez sair os mortos dos sepulcros, vencendo a oposição da morte. A morte o matou no corpo que assumira; mas ele, com as mesmas armas, saiu vitorioso da morte. A divindade ocultou-se sob a humanidade e assim aproximou-se da morte, que matou, mas também foi morta. A morte matou a vida natural e, por sua vez, foi morta pela vida sobrenatural.
        A morte não poderia devorá-lo se ele não tivesse um corpo nem o inferno tragá-lo se não tivesse carne. Foi por isso que desceu ao seio de uma Virgem para tomar um corpo que o conduzisse à mansão dos mortos. Com o corpo que assumira, lá entrou para destruir suas riquezas e arruinar seus tesouros.
        A morte foi ao encontro de Eva, a mãe de todos os viventes. Ela é como uma vinha cuja cerca foi aberta pela morte, por meio das próprias mãos de Eva, para que pudesse provar de seus frutos. Então Eva, mãe de todos os viventes, tornou-se fonte da morte para todos os viventes.
        Floresceu, porém, Maria, a nova videira, em lugar de Eva, a antiga videira; nela habitou Cristo, a nova vida, a fim de que, ao aproximar-se a morte com sua habitual segurança para alimentar a fome devoradora, encontrasse ali escondida, no seu fruto mortal, a Vida destruidora da morte. Quando, pois, a morte engoliu sem temor o fruto mortal, ele libertou a vida e com ela, multidões.
        O admirável filho do carpinteiro, que levou sua cruz até os abismos da morte que tudo devoravam, também levou o gênero humano para a morada da vida. E uma vez que o gênero humano, por causa de uma árvore, tinha se precipitado no reino das sombras, sobre outra árvore passou para o reino da vida. Na mesma árvore em que fora enxertado um fruto amargo, foi enxertado depois um fruto doce, para que reconheçamos o Senhor a quem criatura alguma pode resistir.
        Glória a vós, que lançastes a cruz como uma ponte sobre a morte, para que através dela as almas possam passar da região da morte para a vida!
        Glória a vós, que assumistes um corpo de homem mortal, para transformá-lo em fonte de vida para todos os mortais!
        Vós viveis para sempre! Aqueles que vos mataram, trataram vossa vida como os agricultores: enterraram-na como o grão de trigo; mas ela ressuscitou e, junto com ela, fez ressurgir uma multidão de seres humanos.


http://liturgiadashoras.org/oficiodasleituras.html

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A Ressurreição de Cristo

O Homem Celeste







Da Homilia pascal de um Autor antigo
(Sermo 35, 6-9:PL17 [ed. 1879],696-697)
Cristo, autor da ressurreição e da vida






        Lembrando a felicidade da salvação recuperada, Paulo exclama: assim como por Adão entrou a morte neste mundo, da mesma forma por Cristo foi restituída a salvação ao mundo. (cf. Rm 5,12). E ainda: O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem, que vem do céu, é celeste (1Cor 15,47).
        E prossegue, dizendo: Como já refletimos a imagem do homem terreno, isto é, envelhecido pelo pecado, assim também refletimos a imagem do celeste (1Cor 15,49), ou seja, conservaremos a salvação do homem recuperado, redimido, renovado e purificado em Cristo. Segundo o mesmo Apóstolo, Cristo é o princípio, quer dizer, é o autor da ressurreição e da vida; em seguida, vêm os que são de Cristo, isto é, os que vivendo na imitação da sua santidade, podem considerar-se sempre seguros na esperança da sua ressurreição e receber com ele a glória da promessa celeste. É o próprio Senhor quem afirma no Evangelho: Quem me segue não perecerá, mas passará da morte para a vida (cf. Jo 5,24).
        Deste modo, a paixão do Salvador é a salvação da vida humana. Precisamente para isso ele quis morrer por nós, a fim de que, acreditando nele, vivamos para sempre. Ele quis, por algum tempo, tornar-se o que somos, para que, alcançando a sua promessa de eternidade, vivamos com ele para sempre.
        É esta a imensa graça dos mistérios celestes, é este o dom da Páscoa, é esta a grande festa anual tão esperada, é este o princípio da nova criação.
        Nesta solenidade, os novos filhos que são gerados nas águas vivificantes da santa Igreja, com a simplicidade de crianças recém-nascidas, fazem ouvir o balbuciar da sua consciência inocente. Nesta solenidade, os pais e mães cristãos obtêm, por meio da fé, uma nova e inumerável descendência.
        Nesta solenidade, à sombra da árvore da fé, brilha o esplendor dos círios com o fulgor que irradia da pura fonte batismal. Nesta solenidade, desce do céu o dom da graça que santifica os recém-nascidos e o sacramento espiritual do admirável mistério que os alimenta.
        Nesta solenidade, a assembleia dos fiéis, alimentada no regaço materno da santa Igreja, formando um só povo e uma só família, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade, canta com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos (Sl 117,24).
        Mas, pergunto, que dia é este? Precisamente, aquele que nos trouxe o princípio da vida, a origem e o autor da luz, o próprio Senhor Jesus Cristo que de si mesmo afirma: Eu sou a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça (Jo 8,12; 11,9), quer dizer, aquele que em todas as coisas segue a Cristo, chegará, seguindo os seus passos, ao trono da eterna luz. Assim pedia ele ao Pai em nosso favor, quando ainda vivia em seu corpo mortal, ao dizer: Pai, quero que onde eu estou, aí estejam também os que acreditaram em mim; para que assim como tu estás em mim e eu em ti, assim também eles estejam em nós(cf. Jo 17,20s).

Responsório 1Cor 15,47.49.48 

R. O homem primeiro é terrestre porque é tirado da terra;
o segundo, porém, é celeste porque é do céu sua origem.
* Assim como em nós carregamos
a imagem do homem terrestre,
carreguemos em nós, igualmente,
a imagem do homem celeste. Aleluia.
V. Os terrestres são como o terrestre;
os celestes são como o celeste. * Assim como. 

Liturgia das Horas

http://liturgiadashoras.org/


terça-feira, 7 de abril de 2015

A Lei dos Mestres






A Lei dos Mestres e dos sumos sacerdotes estavam consonantes com as predições dos profetas.
Jesus vem restaurar a Palavra Viva: Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele;((Jo 7,38)



Segunda leitura Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia
(Oratio 4, 1-2: PG 89, 1347-1349)        (Séc.VI)
Era necessário que Cristo sofrese
para assim entrar em sua glória
        Cristo, por suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com seus discípulos, dizia-lhes: Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado (Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado sua morte em Jerusalém.
        Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com seu corpo depois da morte; predisse igualmente que aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal. De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e sua impassibilidade. O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e portanto impassível, se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este motivo somente ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).
        Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em sua glória. Por isso, veio ao encontro do seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo. Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida (cf. Hb 2,10).
        Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída por meio da cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador: Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,38-39); e chama glória a morte na cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto dele, antes da criação do mundo.

Responsório Hb 2,10; Ap 1,6b; Lc 24,26 
R. Convinha que Aquele, por quem
e para quem existe todo ser,
conduzindo para a glória grande número de filhos,
levasse à perfeição, através do sofrimento,
o Autor da salvação.
A ele seja glória e domínio pelos séculos. Aleluia.
V. Era preciso que o Cristo sofresse
para entrar em sua glória. * A ele seja.  


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Jesus ressuscitou..


A RESSURREIÇÃO DE CRISTO


HOMILIAS


Segunda leitura
Da Homilia sobre a Páscoa, de Melitão, bispo de Sardes

(Nn.2-7.100-103: SCh123,60-61.120-122)  (Séc.II)

O louvor de Cristo
        Prestai atenção, caríssimos: o mistério pascal é ao mesmo tempo novo e antigo, eterno e transitório, corruptível e incorruptível, mortal e imortal.
        É mistério antigo segundo a Lei, novo segundo a Palavra que se fez carne; transitório pela figura, eterno pela graça; corruptível pela imolação do cordeiro, incorruptível pela vida do Senhor; mortal pela sua sepultura na terra, imortal pela sua ressurreição dentre os mortos.  
        A Lei, na verdade, é antiga, mas a Palavra é nova; a figura é transitória, mas a graça é eterna; o cordeiro é corruptível, mas o Senhor é incorruptível, ele que,imolado como cordeiro, ressuscitou como Deus.  
        Na verdade, era como ovelha levada ao matadouro, e contudo não era ovelha; era comocordeiro silencioso (Is 53,7), e no entanto não era cordeiro. Porque a figura passou e apareceu a realidade perfeita: em lugar de um cordeiro, Deus; em vez de uma ovelha, o homem; no homem, porém, apareceu Cristo que tudo contém.  
        Por conseguinte, a imolação da ovelha, a celebração da páscoa e a escritura da Lei tiveram a sua perfeita realização em Jesus Cristo; pois tudo o que acontecia na antiga Lei se referia a ele, e mais ainda na nova ordem, tudo converge para ele.  
        Com efeito, a Lei fez-se Palavra e, de antiga, tornou-se nova (ambas oriundas de Sião e de Jerusalém); o preceito deu lugar à graça, a figura transformou-se em realidade, o cordeiro em Filho, a ovelha em homem e o homem em Deus. 
        O Senhor, sendo Deus, fez-se homem e sofreu por aquele que sofria; foi encarcerado em lugar do prisioneiro, condenado em vez do criminoso e sepultado em vez do que jazia no sepulcro; ressuscitou dentre os mortos e clamou com voz poderosa: “Quem é que me condena? Que de mim se aproxime (Is 50,8). Eu libertei o condenado, dei vida ao morto, ressuscitei o que estava sepultado. Quem pode me contradizer? Eu sou Cristo, diz ele, que destruí a morte, triunfei do inimigo, calquei aos pés o inferno, prendi o violento e arrebatei o homem para as alturas dos céus. Eu, diz ele, sou Cristo. 
        Vinde, pois, todas as nações da terra oprimidas pelo pecado e recebei o perdão. Eu sou o vosso perdão, vossa páscoa da salvação, o cordeiro por vós imolado, a água que vos purifica, a vossa vida, a vossa ressurreição, a vossa luz, a vossa salvação, o vosso rei. Eu vos conduzirei para as alturas, vos ressuscitarei e vos mostrarei o Pai que está nos céus; eu vos levantarei com a minha mão direita”.

Responsório At 13,32b-33a; 10,42b; 2,36b

R. Deus cumpriu a promessa a nossos pais,
ressuscitando dos mortos a Jesus.
* Por Deus mesmo ele foi constituído
Juiz dos vivos e dos mortos. Aleluia.
V. Saibam, pois, que Deus fez Senhor e Cristo
este Jesus a quem vós crucificastes. * Por Deus.

HINO TE DEUM (A VÓS, Ó DEUS, LOUVAMOS)

A vós, ó Deus, louvamos,
a vós, Senhor, cantamos.








Comentário do dia por São Gregório Magno (c. 540-604)
Papa, Doutor da Igreja
Homilias sobre os evangelhos, 26, 2-6

«Ide depressa dizer aos discípulos: “Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá O vereis.”» (Mt 28,7)
«Ele vai à vossa frente para a Galileia: lá O vereis, como Ele vos disse.» «Galileia» quer dizer «fim do cativeiro». O Redentor já havia passado da Paixão à ressurreição, da morte à vida, do castigo à glória, da corrupção à incorruptibilidade. Mas se, após a ressurreição, os discípulos O vêem primeiro na Galileia, é porque nós não contemplaremos, na alegria, a glória da sua ressurreição se não trocarmos os vícios pelos cumes da virtude. Há uma deslocação que tem de ser feita: se a notícia é conhecida no sepulcro, é noutro local que Cristo Se mostra […].
Havia duas vidas; nós conhecíamos uma, mas não a outra. Havia uma vida mortal e uma vida imortal, uma corruptível e outra incorruptível, uma de morte e outra de ressurreição. Então apareceu o Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo (1Tim 2,5), que assumiu a primeira vida e nos revelou a outra, que perdeu uma ao morrer e nos revelou a outra ao ressuscitar. Se Ele nos tivesse prometido, a nós que conhecíamos a vida mortal, uma ressurreição da carne sem dela nos dar uma prova palpável, quem teria acreditado nas suas promessas?






quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

13ª Estação: Jesus é descido da cruz

13ª Estação: Jesus é descido da cruz

Do Evangelho segundo João19, 38
Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo.
Maria vê morrer seu Filho, Filho de Deus e também d’Ela. Sabe que é inocente, mas carregou sobre Si o peso das nossas misérias. A Mãe oferece o Filho, o Filho oferece a Mãe. A João, a nós.
Jesus e Maria, eis um família que, no Calvário, vive e sofre a separação suprema. A morte divide-os, ou pelo menos parece dividi-los, uma mãe e um filho com um vínculo simultaneamente humano e divino inconcebível. Por amor, o oferecem. Abandonam-se ambos à Vontade de Deus.
Na voragem que se abriu no coração de Maria, entra outro filho, que representa a humanidade inteira. E o amor de Maria por cada um de nós é o prolongamento do amor que Ela teve por Jesus. Sim, porque, nos discípulos, verá o rosto d’Ele. E viverá para eles, para sustentá-los, ajudá-los, encorajá-los, levá-los a reconhecer o Amor de Deus, para que, na sua liberdade, se voltem para o Pai.
http://www.vatican.va

Sth I q36 a4: O Pai e o Filho são um só principio do Espirito Santo

Santo Tomas de Aquino.


Quando Jesus diz "esta tudo consumado" isto significa o preludio da efusão do Espirito Santo. A Transcendência Divina conforme previsto nas profecias do Antigo Testamento. Santo Tomas de Aquino nos ensina na Summa Teológica que o "Pai e Filho são correlatos - mas um só Deus pois o Pai comunica a esse Filho, ao gerá-lo, não uma natureza semelhante a sua, mas a própria natureza da divindade segundo a qual ele é, eles são juntos, o Deus único. " (Sth I q36 a4 ni, pag 603)

Comparando este contexto ( e ouso em fazê-lo) com o texto de João Paulo II "Teologia do Corpo", na introdução, encontramos: "...da relação que Deus é, no Pai e no Filho que se amam no Espirito, na relação que nós somos como imagem e semelhança de Deus e corporalmente concretizamos, sendo o corpo o sinal desta relação.....Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Ao criar a humanidade do homem e da mulher à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreveu nela a vocação ao amor e portanto, a capacidade e a responsabilidade correspondentes....Porque o homem é um espirito encarnado, isto é, uma alma que se exprime no corpo e um corpo informado por um espirito imortal, o homem é chamado ao amor na sua totalidade unificada. O amor abraça também o corpo humano e o corpo torna-se participante do amor espiritual".

Jesus é o Filho encarnado num corpo informado pelo espirito divino, isto é Deus. Nesta correlação, eles são juntos o único principio do Espirito Santo. Este Espirito Santo não é uma "fonte anonima", um "não-pessoal" , é o amor mutuo entre o Pai e o Filho, e se eles são UM enquanto princípios do Espirito Santo (Amor), e simultaneamente, em razão da unidade transcendente do Ser Divino e pela virtude unificadora do Amor.

"Esta tudo consumado".

A experiencia humana revela-se possível da Unidade Transcendente do Ser Divino através da corporalidade de Cristo na cruz.
Observamos detalhadamente o quadro desta 13ª Estação: os seguidores mais próximos são: Maria, mãe de Jesus, a irmã de Maria, Maria de Cleofas, seus familiares. João Evangelista e Maria Madalena, o amor esponsal em  Espirito Divino, a mais profunda, universal e significativa experiencia humano: o Amor. Como afirma João " o amor procede de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus...pois Deus é o amor" IJo 4, 7-8.
Logo em seguida , José de Arimateia, discípulo e comerciante; e, Nicodemo, doutor da Lei e contrario a condenação de Jesus no Templo.
Estamos para ser redimidos, estamos próximos da salvação. Sua pequena comunidade,  - um resto de exilados de Israel, segundo Ezequiel -,  carregam Jesus para o local do sepultamento.
É tempo de oração,
              de recolhimento,
              de meditação,
              de penitencia,
              de arrependimento,
porque o caminho da salvação esta acontecendo.
O Reino de Deus esta próximo!.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

13º Estação: Jesus morre na cruz

"Do Evangelho segundo João 19, 28-30
Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-Lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
«Tenho sede». «Tudo está consumado». Nestas duas frases, Jesus confia-nos, com um olhar voltado para a humanidade e outro para o Pai, o desejo ardente que envolveu a sua pessoa e a sua missão: o amor ao homem e a obediência ao Pai. Um amor horizontal e um amor vertical: eis o desenho da Cruz! E do ponto de encontro deste duplo amor, lá onde Jesus inclina a cabeça, brota o Espírito Santo, primeiro fruto do seu regresso ao Pai.
Neste sopro vital da consumação, vibra a lembrança da obra da criação agora redimida; mas vibra também o apelo a todos nós, crentes n’Ele, para «completarmos aquilo que falta, das tribulações de Cristo, na nossa carne». Até que tudo esteja consumado!
http://www.vatican.va"

Sth I q 36 a 3: O Espirito Santo procede do Pai pelo Filho

" o Espirito Santo procede conjuntamente do Pai e do Filho, encontra-se que o Espirito Santo procede do Pai, e imediatamente enquanto provem do Filho. ..É assim que Abel procedia de Adão imediatamente, pois Adão era seu pai. E mediatamente, pois que Eva era sua mãe, e ela procedia de Adão..." pag 600.

Ditos de Luz e Amor, São João da Cruz, Obras Completas, pag.110:

" l69. Quanto mais te apartas das coisas terrenas, mais te aproximas das celestiais e mais te achas em Deus"

Por que Jesus teve que morrer na Cruz?

Refletindo sobre os textos acima citados e com  "Teologia do Corpo" de João Paulo II, concluímos: 
O Homem foi criado como uma unidade substancial de corpo e alma.

As características próprias da matéria permite a mistura de suas propriedades. Assim, por exemplo, o alimento torna-se sangue, que se assimila à carne e aos membros. Sua constituição é de natureza mortal, obedece as Leis da Natureza.
A alma, entretanto, pode-se tornar independente do corpo, como acontece durante o sono ou o êxtase. Sua constituição é de natureza espiritual, imortal e obedece as Leis Divinas.
A imortalidade do Homem é uma Graça que devemos obter na ressurreição dos corpos. Ou seja: as Leis da Natureza comungam harmoniosamente com as Leis Divinas. 

Quanto refletimos sobre a "Teologia do Corpo" de João Paulo II, na questão do " no principio" que esta na resposta de Jesus aos  fariseus (Mt 19,3ss, e Mc10,2ss), ao referi-se sobre  a indissolubilidade do casamento; levanta também a questão da imortalidade do corpo, que compreendemos como uma situação existente  "no principio", na gênese da criação, antes da queda do Homem.
Situação que perdemos quando escolhemos percorrer o caminho sugerido pela serpente e deixamos de lado o projeto divino.
O fruto desta ação mostrou-se ácido, estragado e mortal. Trouxe consigo a fome, a doença e a morte. Porem, por Graça Divina, retemos na memoria, as lembranças dos frutos originados do projeto divino.

A situação anterior a queda do Homem esta irremediavelmente perdida. Porque Deus não pode  "apagar" a ação humana , romper as consequências das Leis Divinas e da Natureza. Isto provocaria a destruição da Criação.

Mas Deus não nos abandona !  
Faz uma nova Aliança com a humanidade: "Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu feriras o calcanhar" Gn 3,l5.

A hostilidade na linhagem trouxe a contradição, não como era no plano espiritual antes da queda; com o uso garantido e protegido do livre arbítrio, cercado por bons pensamentos, juízos corretos e ações benéficas.
A contradição trouxe a dúvida, o engano, a corrupção e a luta constante de sobrevivência.

Jesus morre na cruz para ensinar como superar a contradição e recuperar o projeto divino humano, antes da queda. A Via-Sacra é o exemplo vivo desta realidade salvífica. Leva-nos a pensar, refletir e penitenciar sobre a nossa situação. Os sacramentos, vindo com o Espirito Santo, fornecem a Graça para nossa Redenção.